28 de maio de 2009

.:: Biossegurança ::.


A urgência do Atendimento Pré-Hospitalar pressupõe agilidade, mas não o descuido com a biossegurança uma atividade que exige decisões rápidas e ações precisas. Em meio à corrida contra o tempo, os profissionais de APH estão expostos a diversos riscos como infecções, contaminações e acidentes, principalmente, por manusearem materiais orgânicos de pacientes portadores de patologias desconhecidas, podendo ser fonte de transmissão de microorganismos para os profissionais e outras vítimas.

Diante desta agilidade no atendimento, proteger-se contra estes riscos, a chamada biossegurança, muitas vezes, acaba em segundo plano, mas esta preocupação deve ser tão importante quanto chegar ao local do acidente em um tempo-resposta satisfatório. ... Os cuidados que devem ser observados pelas equipes de APH são semelhantes àqueles observados no atendimento intra-hospitalar: uso de luvas, máscara, óculos, gorro, avental, lavagem das mãos, entre outros. Existem, porém, particularidades do APH que devem ser consideradas. O uso do avental, por exemplo, pode ser substituído pelo uniforme da equipe, como é o caso das equipes de resgate de corporações de bombeiros e do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Outro item essencial, a lavagem das mãos, é considerado, pela Portaria nº. 2.616, de 12/05/1998, que regulamenta as normas de controle de infecções hospitalares, “a ação mais importante para a prevenção e controle das infecções hospitalares”. No entanto, a colocação de uma pia dentro das unidades de resgate é, muitas vezes, inviável. ... Segundo o professor e instrutor do ESCI (Emergency Care and Safety Institute) e RTI (Rescue Training International), Randal Fonseca, o treinamento e a supervisão continuada são a essência de uma atuação segura. “Todo profissional que atua na área médica deve participar de treinamento sobre riscos e perigos de contágio biológico e aprender técnicas de uso dos Equipamentos de Proteção Individual e de segurança, indicadas para o manuseio de substâncias potencialmente transmissoras de doenças infecciosas”, esclarece. ... “Os profissionais estão expostos à contaminação nas ferragens de um veículo, por exemplo, ou entrar em contato com algum produto químico nocivo ao realizar atendimento a condutores de veículos que transportam cargas”, cita.

As especialistas em Vigilância Sanitária da Gerência-Geral de Tecnologia em Serviços de Saúde da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Sâmia Hatem e Heiko Santana, explicam que, para todos os trabalhadores da saúde, considera-se risco biológico a probabilidade da exposição ocupacional a agentes biológicos – microorganismos geneticamente modificados ou não, culturas de células, parasitas, toxinas e príons. “Para um maior controle da transmissão de microorganismos no APH é necessário que haja vigilância epidemiológica, treinamento e educação dos profissionais, reconhecimento da importância de todos os fluidos corporais, secreções e excreções e adoção de precauções padrão para todos os pacientes, independentemente, de estarem ou não infectados”, salienta Sâmia. Os riscos biológicos envolvem patogenias transmitidas pelo sangue, por fluidos corpóreos ou até mesmo pelo ar. ... Os cuidados nunca são demais, uma vez que não se sabe de antemão se o paciente está ou não com algum processo infeccioso. ...

As ambulâncias podem ser classificadas como áreas críticas, onde a possibilidade de transmissão de várias doenças é alta pelo grande volume de procedimentos de risco e pela presença constante de sangue e secreções no interior das viaturas. Por isto, sua limpeza e desinfecção são itens essenciais no controle de infecções pré-hospitalares. O protocolo de limpeza e desinfecção de ambulâncias do Grupamento de Socorro de Emergência do CBMERJ recomenda que a limpeza geral da ambulância, com a retirada de todos os artigos do seu interior, seja realizada semanalmente ou de acordo com a necessidade. Diariamente deve ser realizada a limpeza parcial, que inclui pisos, paredes, bancadas e macas. Após cada regresso, deve ser feita a desinfecção da maca e dos demais materiais utilizados. Situações de emergência exigem raciocínio rápido e preciso. Mas confundir agilidade com pressa não é o melhor caminho.

Para o médico responsável pelo SAMU de Campinas/SP, José Roberto Hansen, a agilidade e a segurança devem andar juntas no APH. “Agilidade é uma palavra comum em serviços de urgência, mas não deve ser o motivo de não se utilizar os equipamentos de segurança”, sentencia. Randal Fonseca também salienta que não se deve confundir “agilidade” com “pressa de fazer” ou “velocidade de agir”. “Na verdade, o que se busca é proficiência e habilidade, que dependem de qualidade e que suscitam competência de fazer corretamente”, analisa. Fonseca aponta, inclusive, que a pressa não garante a agilidade do atendimento. “O estresse acomete o indivíduo que busca agir com velocidade, inibe sua capacidade de reflexão e, conseqüentemente, de avaliar riscos potenciais”, salienta. Hansen explica que o profissional deve ter cautela, raciocinar sobre como proceder no local, sobre os riscos existentes e como se prevenir. A autoconfiança, outro elemento de risco, segundo Fonseca, surge, principalmente, nos profissionais que têm mais tempo de serviço, que desconsideram as medidas de proteção por acreditarem que possuem muita experiência.

Além dos protocolos, que são pertinentes a cada serviço de APH, há a norma da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), a NBR 14561/2000 (Veículos para atendimento a emergências médicas e resgate), que dispõe sobre alguns requisitos das viaturas para garantir o controle de infecções, como sistemas de aspiração e ambiente dentro das ambulâncias. Porém, como ela não tem força de lei, é somente uma recomendação, acaba não sendo seguida pela maioria dos fabricantes e usuários. ... Infelizmente, parece que ainda existe certa descrença acerca dos riscos biológicos e do uso adequado dos equipamentos pelos profissionais do pronto atendimento, especialmente, por parte dos profissionais não oriundos da área da saúde, como socorristas ou bombeiros, por exemplo. ... A limitação da legislação brasileira é um obstáculo enfrentado pelas equipes, pois define normas de controle de infecções voltadas somente ao meio hospitalar. O MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) estabelece diretrizes para os profissionais da saúde, através da Norma Regulamentadora nº32 (NR-32), que dispõe sobre Saúde e Segurança para os trabalhadores da saúde. Já dentre as legislações criadas pela Anvisa, destaca-se a RDC nº. 306/04, que dispõe sobre o gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Um manual sobre gerenciamento de resíduos está disponível em:
http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/manual_gerenciamento_residuos.pdf .
Treinar, treinar, treinar. Os especialistas são unânimes em afirmar que a capacitação é a melhor forma de conscientizar os profissionais e prevenir os acidentes com materiais biológicos.

Fonte: Texto transcrito (partes) da Revista Emergência MARÇO / 2007 – BIOSSEGURANÇA - Reportagem de Lia Nara Bau.

Um comentário:

  1. Muito boa sua pagina continui assim.Gosto de saber sempre mais sobre meu servivo de APH estou atuando na area apouco tempo ,mas gosto muito de q faço.

    ResponderExcluir